sábado, 15 de outubro de 2011

Uma angustiante experiência de sonho lúcido

Que tal, de repente, no amanhecer do dia, você despertar dentro de um sonho e perceber que continua dormindo e não conseguir mover um centímetro sequer do seu corpo? Bem, caro leitor, é o que tem me acontecido algumas vezes.

O pesadelo (detalhe) - Henry Fuseli, 1781.
O pesadelo (detalhe) - Henry Fuseli, 1781.
Uma das representações da paralisia
do sono na cultura popular.

Enquanto distraidamente assistia a mais uma edição do Globo Repórter nesta última sexta-feira (14), do qual falava sobre os problemas que muitas pessoas tem com insônia, uma das reportagens me chamou muito a atenção. A que falava sobre experimentos científicos em que um biomédico voluntário conseguia se comunicar com cientistas durante o sonho.

Segundo o pesquisador neurocientista que fora entrevistado, Sidarta Ribeiro, diretor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, isso é possível graças ao fenômeno do sonho lúcido, o sonho em que sabemos que estamos sonhando.

“No sono normal, a pessoa sente que é um ator de um filme que ela não controla. Em um sonho lúcido, a pessoa é o diretor do sonho, o roteirista, o produtor. Ela controla todos os elementos do sonho potencialmente”, explica Sidarta.

De acordo com a reportagem, o sonho lúcido só acontece quando o corpo já está descansado e o indivíduo está prestes a acordar, aproximando-se do estado de consciência completa (também chamado de estado de vigília). Ao invés de “acordar”, a pessoa desperta dentro de um estado de transição.

No entanto, ao tomar consciência de que se está sonhando, a maioria das pessoas tende a acordar imediatamente e, geralmente, associam aquele estado a apenas mais um sonho comum e não que estavam, em si, despertas dentro dele.

Nas experiências realizadas no hospital universitário com Bruno Grego, de 29 anos, o biomédico voluntário, ele conseguiu ir muito mais longe. Foi um dos voluntários com maior capacidade de continuar adormecido. “Como você sabe que está sonhando, você tem mais liberdade de fazer coisas que você não faria normalmente”, explica ele.

Entre os testes realizados, inclui-se também a tentativa de comunicação dos pesquisadores com os onironautas (literalmente do grego: exploradores de sonhos). Durante os mesmos são colocados eletrodos próximos aos olhos do sonhador com o qual é previamente combinado que faça certos movimentos com os globos oculares durante o sonho lúcido. Porém, o sinal só é válido se o sono estiver comprovado pelo padrão das ondas cerebrais. Bruno já conseguiu se comunicar dormindo. Veja a reportagem:

Eu, em minha breve vida, já passei por umas três experiências do tipo, mas nada comparado ao que Bruno Grego é capaz de fazer. Na primeira vez, há uns sete ou oito anos, era ainda madrugada quando, durante um pesadelo, tomei nota de que aquilo tudo que se passava era absurdo demais para ser real. Despertei logo em seguida. Não lembro do conteúdo do pesadelo, mas lembro que aquela experiência fora tão estranha que eu só poderia ter sonhando que estava sonhado. E passei a não pensar muito no assunto.

Na segunda vez, durante um soninho gostoso de fim de tarde, acho que há mais ou menos um ano após aquele primeiro episódio, dormi após uma tarde exaustiva de estudo para uma prova de português (gramática). Desta vez, lembro nitidamente que sonhava que continuava  estudando para a prova. Recordo que despertei durante o sonho e sentia como se meu corpo, ou espírito, sei lá, estivesse projetado parcialmente da cintura para cima para fora do meu corpo físico, só que por sobre os ombros. E não conseguia me mexer.

Foi algo breve, por volta de uns dez a doze segundos. Logo após acordei e aquilo tudo foi tão surreal que pensei estar ficando louco ou que estava mesmo tendo alguma experiência paranormal. Contei isso somente a algumas poucas pessoas, fiquei de pesquisar sobre o assunto, mas depois acabou caindo no esquecimento. Acho que meu ceticismo contribuiu muito para isso.

A terceira e mais recente experiência de sonho lúcido que tive foi também a mais aterradora de todas; aconteceu no ano passado. Despertei dentro de um sonho e não conseguia mover um centímetro sequer do meu corpo. Ao contrário das outras vezes em que as coisas ainda se misturavam um pouco com visões um tanto fantasiosas dos sonhos, nesta tinha plena consciência de que estava dormindo, mas meu corpo não respondia a minha insistência em acordar.

Acho que deve ter durado por volta de uns trinta segundos ou mais. Pensei que estava morrendo (hahah!). Forçava meu corpo a levantar, mas nada de ele responder. Dizia comigo mesmo: “agora eu vou acordar… Não, agora sim eu vou acordar…”, em minhas frustradas e repetitivas tentativas. Quando finalmente consegui, parecia que tinha tirado um grande peso de meu corpo, algo muito forte me prendendo na cama. Também só contei isso para algumas poucas pessoas com receio de mal entendimento a respeito do caso.

Mas, depois dessa reportagem e também de algumas pesquisas mais, descobri que não há nada de sobrenatural nisso. O que tive foi o que os especialistas chamam de paralisia do sono, uma condição caracterizada por uma paralisia temporária do corpo imediatamente após o despertar ou, com menos frequência, imediatamente antes de adormecer. Veja:

A paralisia do sono ocorre quando o cérebro acorda de um estado REM (rapid eye movement ─ movimento rápido dos olhos ─, a fase do sono na qual ocorrem os sonhos mais vívidos), mas a paralisia corporal persiste. Isto deixa a pessoa perfeitamente consciente, mas incapaz de se mover. Além disso, o estado pode ser acompanhado por alucinações hipnagógicas.

A pessoa não consegue mover nenhuma parte do corpo, nem falar, e tem apenas um controle mínimo sobre os olhos e a respiração. Esta paralisia é a mesma que acontece quando uma pessoa sonha. O cérebro paralisa os músculos para prevenir possíveis lesões, já que algumas partes do corpo podem se mover durante o sonho. Se uma pessoa acorda repentinamente, o cérebro pode pensar que ela ainda está dormindo, e manter a paralisia.

Imagens e sons podem aparecer durante a paralisia. A pessoa pode sentir presenças atrás dela ou pode ouvir sons estranhos. As percepções parecem-se muito com sonhos, possivelmente fazendo a pessoa pensar que ainda está sonhando. Algumas pessoas relatam sentirem um peso no peito, como se alguém ou algum objeto pesado estivesse pressionando-o. Há também pessoas que relatam terem saído do corpo, ou até "flutuar".

Vários estudos concluíram que a maioria das pessoas experimentará a paralisia do sono pelo menos uma ou duas vezes em suas vidas. Estes sintomas podem durar de alguns poucos segundos até vários minutos e podem ser considerados assustadores para algumas pessoas.

Alguns estudos sugerem que existe um número variado de fatores que aumentam a probabilidade da ocorrência de paralisia do sono e alucinações. Entre eles:

  • Dormir de barriga para cima;
  • Agenda de sono irregular;
  • Cochilos;
  • Privação de sono;
  • Stress elevado;
  • Mudanças súbitas no ambiente ou na vida de alguém;
  • Um sonho lúcido que imediatamente precede o episódio;
  • Sono induzido através de medicamentos, como anti-histaminas.

A indução consciente da paralisia do sono também é uma técnica comum para entrar em um estado de sonho lúcido ou projeção da consciência.

Alguns desses sintomas ocorreram comigo. Ainda bem que não estou louco, nem que isso tudo se tratou realmente de experiências sobrenaturais. Meu ceticismo agradece! Haha! Espero poder aproveitar mais desses sonhos lúcidos nas próximas vezes que tiver. Pensando bem, foi bom ter acontecido isso comigo, é bom conhecer as possibilidades de nossa mente. E você, já passou por algo do tipo em sua vida?

─ Com informações de: Globo Repórter e Wikipédia, a enciclopédia livre.

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